Vinte de dois de Setembro de 2002


Não quero parecer triste, nem infeliz. Mas hoje – talvez apenas, talvez nem tão apenas assim – estou a beira de sair pela rua gritando seu nome. Chamando por você até, de algum lugar, você me dar um sinal de que ainda pensa em mim. Onde quer que você esteja sei que, ao menos, está me escutando. Me lembrei, logo agora, daquele dia em que pegamos o carro e fomos para a cidade vizinha sem ao menos deixar um bilhete para meus pais. No meio de toda a adrenalina que tomava conta do momento, me lembro das palavras que você deixou no ar... “as palavras, mesmo escritas, falam Anne.” E, exatamente, por isso resolvi escrever. Já faz um tempo que não pego uma caneta e me ponho aqui sentada a lhe escrever cartas que nunca lhe entregarei.
Já estou eu cá, novamente, a chorar. Tanto tempo que prometi não mais chorar. Falhei em tantas coisas e essa é uma delas. Não consigo mais não chorar quando passo no parque que costumávamos nos encontrar, ou quando me deparo com um balão pelos ares. Eu era tão forte, tão cheia de mim, sem medos. Hoje não consigo dormir no escuro e tenho medo de tudo. A única coisa que me mantém viva e resgata o resto das minhas forças é Miguel. Nosso Miguel. Ele está tão grande, meu amor. Já anda, e está falando também. Ano que vem o mandarei para a escola, tenho medo, mas segundo minha mãe ele tem que ir. Sei que a escola faz bem, ele vai conhecer novas crianças e ter seus amigos. Mas sou mãe coruja, quero ele a todo momento na barra da minha saia.
Esses dias ele me perguntou quem era o moço na foto da sala. Sentei-o no sofá, peguei o porta retrato e lhe expliquei, com todo meu coração, que era você, seu pai. Disse a ele que você morava no céu, e que nos cuidava aí de cima. Agora, todas as noites antes de dormir ele manda um beijo pro céu que é a casa do seu pai.
Sentimos muito a sua falta, espero que saiba. Te amamos.

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